terça-feira, 5 de abril de 2011

Uma Nobre no Busão

Diariamente a caminho da labuta eu enfrento as dores e maldições do famigerado transporte público de São Paulo e já que esse é meu karma nessa vida, eu o aceito como um bom cordeiro do Senhor, salvo meus dias de fúria em que rezo pra ter um homem-bomba dentro do ônibus disposto a cometer o atentado a qualquer momento.
Eis que hoje me deparei com uma singular jovem mulher que muito me inspirou. Eis o que ela foi capaz de provocar em mim:


Uma nobre no busão

Ela é bela e requintada
Meio gorda, aburguesada
Se encontra perfumada
Pra iniciar sua jornada

Ereta e distinta
Ela não permite que eu minta
Esconde classe por trás de seus óculos escuros
Ela é nobre, mas parece estar em apuros

Fina e elegante
Uma imagem discrepante
Exalando autoconfiança
Ela desafia os cifrões de sua poupança

Adentra a lotação
Em meio ao caos e à confusão
Ela agora está parada
Parece-me indignada
Em seu rosto, uma expressão marcada
Um bico torto, na cara lavada
Como pode tamanha contradição
Uma nobre no busão?!


Ela se move com ardor
Já perdeu o seu pudor
Considera-se superior
Indigna de tamanho horror

Ora minha cara, tenha a santa paciência!
Tire esse azedume e mostre um pouco de decência
Você está no lugar que lhe cabe
Só não sei se você já sabe
Mercedes-Benz é para mim e para você
Uns no banco de couro, outros cheirando a cecê

A marca do carro é a mesma do busão
Mas você parece estar na contramão
Está perdida, não tem a noção
De que sua cabeça está no carro sport
E seu corpo no sistema público de transporte
Veja só, que falta de sorte!


Desci no ponto do MASP  e vim trabalhar. Bom dia a todos. 

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